Homenagem ao Laranja
Em campanha para Bolsonaro não assinar o diploma do prêmio Camões, Chico Buarque apresentou releituras de seus sucessos.
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“Homenagem ao Laranja”
Eu fui fazer campanha
Em homenagem à nata dos empresários
Com vários disparos de Whatsapp
Eu fui a Brusque
Fui à Quickmobile e fiz a tal clonagem
Com chipes ilegais
Agora já não é normal
O que dá de laranja social e liberal
Laranja candidato a laranja federal
Laranja sem soldado, sem cabo e general
Sem açaí da Wal
Mas o laranja pra valer
Não espalha
Depositou a bandalha
Em 48 vezes de dois paus
Dizem as más línguas que ele até trabalha
Emprega a parentela
Do escritório central
“Samba do Grande Algoz”
Tinha cá pra nós
Que agora e após
Eu ouvia a voz dos rouxinóis
Mentira
Eu cuidava a sós
Dos meus dodóis com os meus anzóis
De pescador
Hoje eu tenho apenas uma faixa no meu peito
Exijo respeito
Não mais cheque voador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece o Queiroz
E dou risada do meu algoz
Mentira
“Meu Guri”
Quando seu moço nasceu meu rebento
Já era o momento dele tuitar
Já foi nascendo com cara de fome
E já tinha um hambúrguer pra fritar
Como fui levando não sei explicar
Sem uma embaixada para lhe dar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
Que o papai vai dar
Olhaí, aí o meu guri, olhaí
Olhaí, é o meu guri
“O Meu Pastor”
O meu pastor
Tem um jeito manso que é só seu
De criticar um beijo
De esculhambar o Freixo
E me deixar sem eixo
E de salvar minh’alma
Desmanda no outro corpo
Como se outro corpo
Fosse a sua alçada
“Apesar de Mim”
Amanhã vai ter outro tiro
Amanhã vai ter outro tiro
Hoje eu mando e desmando
Talquei, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Fazendo conchavo
E arminha com a mão
Você que inventou as queimadas
Inventou de inventar toda corrupção
Você que inventou a viadagem
Esqueceu-se de sentar no dragão
Apesar de mim mesmo
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando a Pabllo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar.