Macedo, o caçador de hipocrisias
Tomei o espaço daquele hipócrita do Renato Terra para dizer umas verdades. Tá tudo errado nesse país e alguém tem de ter coragem de apontar isso. Meu nome é Petrônio Augusto Macedo e sou escrivão aposentado. Meus amigos do Posto 6, ali em Copacabana, me chamam de Macedo.
Em primeiro lugar, temos de acabar com essa hipocrisia de que existe racismo no Brasil. A Marilene trabalha há 40 anos lá em casa e nunca foi maltratada. Durante toda minha carreira profissional, sempre cumprimentei as moças da limpeza. Somos todos seres humanos, porra.
Tenho raiva daqueles artistas famosos que moram no Leblon e insistem em subir na favela. Aí voltam pra casa, de frente para o mar, e vão tomar vinho. Hipócritas! Hi-pó-cri-tas. Fazem isso só para se promover.
Eu, por exemplo, nunca saio de Copacabana. Meus amigos são todos moradores do bairro: Matias é dono de uns cartórios, Pedrão herdou uma fortuna dos pais, que eram empreiteiros, e o Barriga administra os cartórios do Matias. Toda a semana a gente joga pôquer, come umas putas e toma uns uísques.
A gente trata o Chico, garçom ali do boteco, muito bem. Sempre pergunto da mulher dele, damos uma gorjeta gorda praquele filha da puta.
A Zuzu Boca de Funil, que faz um boquete de outro mundo, vem aqui em casa e sirvo até água para ela.
Outra coisa que me irrita é ativista do meio ambiente. Dá vontade de tomar uísque com canudo de plástico só de sacanagem. O cara faz campanha contra queimada na Amazônia, compartilha foto do vazamento de óleo, índio morrendo, a puta que o pariu. Aí chega em casa, de frente pro mar, liga o chuveiro e fica batendo uma bronha com a água ligada. Hipócrita do cacete! Bando de hipócrita que só quer se promover.
Parece até aqueles babacas que ficam doando dinheiro pro Médicos sem Fronteiras, Greenpeace, Aldeias Infantis. Como isso me irrita! Fazem isso só para se promover.
Pra não cair nessas contradições hipócritas, eu sou ponta firme, cidadão de bem. Não me envolvo com porra nenhuma. Não subo favela, meus amigos são todos como eu. Não vou me promover com questãozinha de Amazônia, índio, canudo de plástico, porra de epidemia na África, o caralho a quatro. Tenho que manter sempre minha coerência. Se todos fizerem a sua parte, o Brasil sai desse buraco.