Escolhida por aclamação como a produtora mais apta a retratar o Brasil de 2019, a Brasileirinhas anunciou sua retrospectiva. “O governo Bolsonaro já provou diversas vezes que pornografia pode não ter nada a ver com sexo”, explicou Alexandre Frota, erguendo uma cartolina com um tuíte de Olavo de Carvalho. “Isso aqui é muito mais vulgar que qualquer filme meu”, concluiu o deputado.

Na sequência, resoluto, Kid Bengala abaixou as calças: “Isso aqui é micropênis perto do que Paulo Guedes quer enfiar na goela do trabalhador brasileiro”, emendou. A retrospectiva de 2019 será transmitida no XVideos, o maior portal de pornografia da internet.

Os principais acontecimentos deste ano comprovam que em matéria de pornografia a realidade pode superar a fricção: a descoberta de que a Terra é plana, o nazismo é de esquerda e Brilhante Ustra é herói nacional. Golden Shower. Fabrício Queiroz. O fim do Coaf. Meninas vestem rosa, meninos vestem azul. Laranjas. Fazer cocô dia sim, dia não. As piadas de Weintraub. A prometida volta do AI-5. O Gabinete do Ódio.

“O conluio dos que são contra a maneira diferente de governar e usam de forma mascarada um discurso bonito começa a eclodir.”

A revelação de que a imprensa foi criada pelos comunistas para espalhar fake news. A descoberta de que os Beatles, manipulados por Adorno, eram agentes do comunismo. O financiamento das queimadas na Amazônia por Leonardo DiCaprio. O rock como motor das drogas, do aborto e do satanismo. A inteligência do peixe quando se depara com uma manta de óleo. A anotação do porteiro (casa 58) no dia da morte da Marielle. Os tapas de Augusto Nunes, com sua mão de slime, em Glenn Greenwald. CPMI das Fake News. Robôs. Allan dos Santos. Guerra é guerra. Véio da Havan. Disparos de helicópteros em favelas. O perrengue de Heloísa Bolsonaro. A defesa do pastor Marco Feliciano do massacre em Paraisópolis. Os 157 mil reais de dinheiro público que o pastor Marco Feliciano recebeu para tratamento odontológico. O sigilo do cartão corporativo do presidente. A obsessão pela federalização do caso Marielle. A retirada de cartazes dos filmes brasileiros na sede da Ancine. A feiura de Brigitte Macron. A Fundação Palmares. A Pirralha.

Para quem tiver interesse em coisarada ainda mais explícita, Ricardo Salles prometeu mostrar a retrospectiva de seu trabalho no Ministério do Meio Ambiente.