Confira a tradução do pronunciamento de Jair Bolsonaro

Renato Terra

Confuso como um tuíte de Carluxo, o pronunciamento de Jair Bolsonaro acaba de ser traduzido para o português.

Num esforço hermenêutico colossal, linguistas, antropólogos, ufólogos, psiquiatras, taxistas e especialistas em idiomas extintos conseguiram decodificar a mensagem principal do presidente: “A melhor maneira de combater a corrupção é não investigar ninguém”.

Ao citar as investigações da Polícia Federal, o porteiro e o carisma sedutor do 04, o recado em português é o seguinte: “Os filhos justificam os meios”.

O ponto central da tradução foi decodificar a lógica de Bolsonaro. O presidente não se solidarizou com as mortes de Moraes Moreira, Rubem Fonseca e Luiz Alfredo Garcia-Roza, mas publicou um tuíte de apoio a Gusttavo Lima. Para Bolsonaro, apenas aqueles que o apoiam têm importância. Sua lógica é aparelhar o Estado, as forças policiais e os órgãos para perseguir opositores e favorecer quem o apoia.

A tradução, no entanto, empacou em alguns trechos por causa da vasta confusão de ideias. Verter para o português tantas abstrações desconexas foi uma tarefa árdua. Um trecho, ainda inconclusivo, aponta que “Bolsonaro culpou o aquecimento da piscina pela irradiação maciça de nióbio que se alastrou pelo 5G da China, invadiu Nárnia, espalhou feijão tropeiro, fez com que a avó de sua conge fosse presa, além de induzir a PF a fazer um PDF e virar BFF da Marielle”.

De acordo com o colegiado de tradutores, a frase “autonomia não é sinal de soberania”, significa, para Bolsonaro, que “autonomia não é sinal de autonomia”.

Já o trecho “Então, vamos pegar quem tem condições e fazer um sorteio. Por que tem que ser um dele? Ou um de consenso entre nós dois” revela que Bolsonaro propôs liquidar as desavenças com ministros na base do “Pedra, Papel e Tesoura”.

O olhar sereno dos ministros que acompanharam o pronunciamento traziam a certeza de que o presidente não havia cometido nenhum delito grave. Como, por exemplo, uma pedalada fiscal.

Ao ser questionado pelas razões de usar máscara, Paulo Guedes respondeu. “Ouvi rumores de que uma nova gripezinha estava se instalando em Brasília. Pelo que soube, estava se espalhando assim: alguém soltava ‘IMPEACHMENT’ e o outro respondia ‘Saúde'”.

A única frase de Bolsonaro que ainda não foi traduzida, por motivos de crises intermináveis de risos, é: “Desculpe senhor ministro, mas o senhor não vai me chamar de mentiroso”.