O gado de Pavlov
Cientistas de Brasília reuniram dezessete cabeças de gado para realizar um experimento. “Conseguimos desvendar como funciona o condicionamento conspiratório que blinda o senso crítico, bloqueia os questionamentos e mantém o rebanho coeso”, explicou o médico Ivan Pavlov Jr., conhecido como Juninho do Politburo.
O experimento reuniu o rebanho num curral nas imediações do Palácio do Planalto e expôs uma bandeira comunista. Imediatamente, o gado começou a salivar. Em seguida, os pesquisadores acrescentaram alguns estímulos. “Passamos a tocar a vinheta do Jornal Nacional sempre que o pavilhão vermelho era hasteado”, contou Pavlov Jr. “Passados alguns dias, ocultamos a bandeira e fazíamos soar apenas a musiquinha de abertura do noticiário. Mesmo assim a boiada reagia com intensa salivação”, explicou.
Dando prosseguimento à investigação, os cientistas desfraldaram novamente a bandeira comunista. Dessa vez, o estímulo sonoro associado foi um discurso de João Doria. Posteriormente, bastava ouvir o timbre aveludado do governador de São Paulo para as bocas bovinas se encharcarem de saliva e raiva.
Cada vez que uma etapa era concluída, um novo estímulo sonoro era associado à bandeira comunista: grasnar de marrecos; gemidos de Alexandre Frota; a sonora de um jornalista da Folha de S.Paulo perguntando se Bolsonaro havia interferido na Polícia Federal do Rio de Janeiro; comunicados da OMS; cenas de Regina Duarte.
Com o gado já condicionado, os cientistas deram início a uma nova etapa do experimento. “Incluímos alguns fatos novos para ver se a boiada continuava a caminhar em rebanho ou se, por acaso, um deles pararia por alguns segundos para pensar. Quem sabe até questionar”, explicou Juninho.
Primeiro mostraram a demissão de Sergio Moro, e logo depois as acusações de que Jair Bolsonaro queria interferir na Polícia Federal. “Recuamos à demissão do ministro da Saúde no meio da pandemia; à total incapacidade do governo de coordenar qualquer ação de combate à covid-19; ao dólar nas alturas; ao Queiroz; ao elogio a torturadores; à iminência da crise econômica; à recusa do presidente em apresentar seus exames médicos. Elencamos as semelhanças entre Bolsonaro e Hugo Chávez”, explicou o cientista.
Como resposta, o rebanho mugiu, em uníssino: “Eeeeeeeeeee daííííííííí???”.