Olavo de Carvalho, eu te amo
“Duvida da luz dos astros, de que o Sol tenha calor, duvida até da verdade, mas confia em meu amor” (“Hamlet”; ato 2, cena 2).
Olavo, meu feiticeiro, hoje amanheci tomado por um calor vigoroso. E, como se o desejo me pusesse o sangue em ebulição, caí de joelhos e te escrevo essas linhas em brasa. Não pude me concentrar em mais nada, só me restava antecipar a canícula para neutralizar os gélidos ventos da Virgínia.
Impossível conter a alma dentro do corpo depois de acompanhar o vídeo de teu desabafo. São poucos os heróis que se veem obrigados a derrubar governos por uma causa tão nobre. Não disponho de dinheiro, não. Mas formosura.
Tampouco alço voos largos como o Zé Carioca. O que posso aqui, diante deste cenário desolador, é estender a mão em sinal de afeto.
Trago 15 tostões de alvíssaras para acalentar-te: por mais turbulentas que sejam as ondas, elas não impedirão Caronte de remar em direção a seu destino. Ergue essa cabeça, mete o pé e conclui tua jornada pelo Rio Branco. Olha firme para frente, nunca para o Orkut.
Confesso que lutei contra a ideia de acrescentar arestas de comiseração à imagem deste vetusto multisciente homão da porra. Resisti à famosa fábula chinesa do velho sábio que transformou seu gado numa vaquinha. Mas todos hão de convir: há algo de podre no reino da Terra plana.
Peço que olhes para os céus, com as mãos espalmadas, e admires a beleza do gabinete de Órion. Verás que a posição do céu, neste momento, abre um trânsito de instabilidade. Há uma franca conspiração interestelar para derrubar-te.
Por isso te envio em anexo um bichinho de pelúcia, umas pedras de ametista e um quinhão de afeto. Além do contato de uma especialista em constelação familiar.
Peço que desças dessa solidão e espalhes sobre um chão de giz lápis de cera, papéis, tinta guache. Experimenta, numa folha qualquer, desenhar um sol amarelo (redondo, de preferência). Verás o quão solar é a iniciativa da terapia ocupacional.
“Mente vazia é oficina de Bolsonaro”, como se costuma dizer.
Ocupa-te, portanto, de calor. Dança. Canta. Cantando a gente manda a tristeza embora. Nunca estarás sozinho. “É sempre ousada a loucura dos grandes não vigiada” (ato 3, cena 1).
Não te esqueças: “Meus deuses são cabeças de bebês sem touca/ Era um momento sem medo e sem desejo/ Ele me deu um beijo na boca/ E eu correspondi àquele beijo”.