Pressionado a trabalhar, Bolsonaro tem reação alérgica

Débora Gonzales
Renato Terra

Logo após inaugurar a exposição dos trajes usados em sua cerimônia de posse, Jair Bolsonaro sentiu um puxão na fralda de seu paletó. Era um assessor.

“Presidente, amanhã a Inglaterra começa a vacinação. Precisamos pensar em alguma coisa aqui pro Brasil.”

“Bota a culpa no comunismo nisso aí”, ele respondeu.

“É que a gente tem que apresentar um plano de vacinação, presidente.”

“Não dá pra xingar o Doria?”

“Até dá. Mas a gente tem que apresentar alguma coisa.”

Nesse momento o presidente sentiu uma fisgada na panturrilha e precisou de atendimento médico.

No dia seguinte, já com reações alérgicas, Bolsonaro se reuniu com o ministro da Saúde.

“Presidente, o senhor precisa colaborar com a elaboração de um plano de vacinação.”

“E o PT?”, respondeu Bolsonaro.

“Tá na lama, presidente.”

“Aquele astronauta da ciência não consegue provar que é uma gripezinha? Não dá pra mandar o pessoal invadir hospital de novo e injetar cloroquina nesses canalhas? Cadê o Placar da Vida, porra? Tava tudo bem, e de repente tem que pensar em vacina!”

“Presidente, precisamos comprar seringas, algodão, pensar na logística.”

“Ô Eduardo, vem cá meu filho. Fala de novo em AI-5 que o pessoal se aquieta. Já tô ficando com náusea de novo. Minha panturrilha já tá toda vermelha.”

“Presidente, mas o João Doria deve conseguir na justiça a aprovação da Coronavac. A gente precisa apresentar alguma coisa.”

“Para, porra! Não me pressiona! Todo mundo vai morrer um dia. Não sou coveiro.”

“Olha, presidente, vou ser sincero. Cada dia que a gente demora são centenas de vidas perdidas. A contaminação tá subindo e os outros países estão se movimentando. Vamos ficar pra trás. Não é hora de criar conflitos. Temos a oportunidade de liderar um plano nacional. Mas é preciso colocar a mão na massa!”

Bolsonaro tentou abrir uma planilha, mas não resistiu. Com o rosto todo empolado, desmaiou. Já recomposto, tentou apresentar uma ideia propositiva, mas a voz não veio. Uma nova sugestão, então, lhe ocorreu.

“Criar uma nota de R$ 800, dá tempo?”

E sussurrou: “Demite aquele cara que falou aquele negócio de colocar a mão na massa. Não sou padeiro. Não queimo a rosca!”.