Retrato aloprado: uma biografia de Jair Bolsonaro (parte dois)
Você está lendo o segundo episódio de Retrato Aloprado. Se você não leu o primeiro, leia aqui.
Jair Messias Bolsonaro não fez nada em Eldorado até os 18 anos. Foi na aurora de sua vida, naquelas tardes fagueiras à sombra das bananeiras e debaixo dos laranjais que formou sua personalidade.
Uma prova da sexta série, obtida com exclusividade por esta coluna, mostra como seu raciocínio contestador funcionava desde a mocidade.
Cuestão 1: Em que data comemoramos a Independência do Brasil?
Resposta de Bolsonaro: No dia D e na hora H.
Cuestão 2: Uma padaria assa 15 pães por minuto. Quantos pães são assados em uma hora?
Resposta: E daí? Eu não sou padeiro.
Cuestão 3: Cite dois metais alcalinos.
Resposta: Pergunta pros quilombolas e indígenas que estão deitados sobre nossos tesouros! Isso aí o colégio não questiona! Não tem uma terra indígena que não seja rica em nióbio (conhecido pelo símbolo Nb, tem número atômico 41, pertence ao grupo 5B da tabela periódica e não é um metal alcalino).
Cuestão 4: Qual a função do fígado?
Resposta: Aí não dá. O problema é que a esquerda quer dividir o Brasil para governar. E essa imprensa maldita distorce tudo o tempo todo, porra. Daqui a pouco não vamos mais poder chamar ninguém de “paraíba” aqui na sala que serão dois anos de prisão. E o PT?
Visionário, Bolsonaro traçou uma estratégia para ser aprovado: na última folha da prova, desenhava sempre um croqui com um plano para colocar uma bomba na adutora do bebedouro da escola. E escrevia um recado: “Se não adotarmos o voto impresso, isso pode acontecer aqui”. Passava de ano direto, sem recuperação.
Ao ser questionado em casa sobre os estudos, o jovem Bolsonaro falava do comunismo dos professores, da doutrinação gayzista que diariamente tinha que desarmar, das denúncias de que o diretor era pedófilo. E ia pescar.
Um dia, as aulas foram interrompidas pelo cheiro de Napalm pela manhã. Era a Operação Registro. O Exército brasileiro irrompia em Eldorado para capturar o guerrilheiro Lamarca. Jair sentiu o chamado. Prontificou-se a ajudar as tropas. Mostrou as trilhas na mata. Fez café. Caiou a grama.
E ali aprendeu uma valiosa lição: enquanto ajudava os soldados, poderia faltar às aulas.