Retrato aloprado: uma biografia de Jair Bolsonaro (parte cinco)

Você está lendo o quinto episódio de Retrato Aloprado. Se você não leu os primeiros, acesse neste link.

Expulso do Exército, Bolsonaro concretizou uma etapa importante do seu plano de carreira. Poderia, enfim, ficar sem fazer nada. E ainda botaria a culpa no Exército, que não o queria mais. Mas faltava uma peça no quebra-cabeça: criar uma fonte de renda que lhe garantisse sustento sem mover uma palha.

Foram meses e meses de ócio produtivo. O jovem Bolsonaro passava dias e noites olhando o céu, analisando as nuvens e pensando qual emprego poderia lhe garantir auxílio-moradia, alimentação, transporte, salário fixo sem que ele precisasse fazer alguma coisa.

Um belo dia, identificou numa nuvem o formato de um boi. Olhou com mais atenção. Viu mais cinco nuvens com traços bovinos. Eureca! A visão luminosa de um gado voador trazia a resposta que tanto buscava.

Lançou-se vereador pelo Rio de Janeiro em 1988.

Em sua campanha, manteve-se fiel aos nobres princípios de inércia e ilegalidade que marcaram sua trajetória militar. Como o Exército proibia campanha política em suas dependências, Bolsonaro usou uma pipa para despejar panfletos nos pátios dos quartéis. Certa vez simulou um enguiço em seu carro na ponte Rio-Niterói para panfletar na base naval ali situada. Colava cartazes nas traseiras dos ônibus até alguém tirar. Foi eleito com mais de 11 mil votos.

Como vereador, manteve-se fiel aos nobres princípios de inércia e ilegalidade que marcaram sua campanha. Tinha urticária só de pensar em percorrer a cidade, identificar demandas, apresentar projetos, orçamentos, licitações ou fiscalizar o prefeito.

Foi então que criou a estratégia do Boi Rosa.

Era uma vez um boi que não queria puxar carroça. Não queria virar bife. Não queria fazer nada. Então resolveu se pintar de cor-de-rosa. Não havia nenhum mérito na existência de um boi rosa, mas aquilo era tão esdrúxulo que todo mundo começou a comentar. Boi Rosa ficou famoso. Muita gente vinha de longe e pagava ingresso para ver Boi Rosa. E Boi Rosa podia passar os dias deitado na sombra.

Uma vez por semestre, Bolsonaro se metia numa confusão que atraía a atenção da imprensa e fazia seu nome ficar na mente dos eleitores. Ficou famoso. Boi Rosa foi eleito deputado federal.