Retrato aloprado: uma biografia de Jair Bolsonaro (parte seis)

Você está lendo o sexto episódio de Retrato Aloprado. Se você não leu os primeiros, acesse neste link.

Um dia, deitado no sofá, o jovem Jair Bolsonaro sentiu a boca seca. O desejo de aplacar a sede sem ter o trabalho de se levantar para buscar um copo d’água lhe provocou uma inquietação. Então Bolsonaro resolveu ter filhos.

Flávio nasceu em 1981. Quando o médico lhe deu um tapinha no bumbum, o bebezinho tossiu: “Coaf! Coaf!”. Aqueles que foram visitar o recém-nascido na maternidade ganharam chocolates Kopenhagen. Foi o caso do amigo Fabrício Queiroz, que lhe deixou um pepino de presente.

Assim que começou a andar, Flávio buscava copos d’água para o pai. Mas, ainda jovem, foi diagnosticado com síndrome vasovagal, que lhe provocava desmaios em situações inusitadas. Ele precisava de alguém para rachar as tarefas domésticas.

Carlos nasceu em 1982. Seu sistema cognitivo se desenvolveu de forma sui generis. Com cinco meses, já buscava copos d’água para o pai. Aos dois anos, aprendeu a passar um café. Aos 14, ainda não falava: apenas farejava e mordia quem se aproximava do pai. Engatinhou até os 16 anos.

Um dia, já adolescente, pressionado a dividir o lanche com amiguinhos, Carlos soltou suas primeiras palavras: “O velho teatro das tesouras volta a agir mais descarado: os traíras vermelhos com seus porcarias, alinhados com os tucanos e seus gulosinhos biografados! Só observar o movimento de rodízio das prostitutas nas últimas décadas! A roupagem muda, contudo, o rabo sempre fica de fora!”. Os amiguinhos permaneceram imóveis por 20 minutos, enquanto Carlos mastigava encarando-os fixamente. O segundo filho de Bolsonaro precisava de alguém que fritasse mais hambúrgueres para seu lanche.

Eduardo nasceu em 1984 e logo foi considerado o gênio da família. Aos 16 anos já sabia desenhar, ler e escrever. Foi o único a tentar trabalhar. Passou num concurso público e se tornou escrivão da Polícia Federal. Fez intercâmbio. Era visto com uma ovelha negra dentro do habitat do Boi Rosa (a filosofia do Boi Rosa é descrita no capítulo anterior).

Logo os três filhos abandonariam suas ambições pessoais para se dedicar a uma causa maior: o pai. O velho Jair poderia se refestelar no sofá enquanto os filhos traziam água, projetos e votos. E açaí.