Retrato aloprado: uma biografia de Jair Bolsonaro (parte final)

Você está lendo o sétimo episódio de Retrato Aloprado. Se não leu os outros, clique aqui.

Em 2018, Bolsonaro se preparou para o grande passo de sua carreira. Como deputado, passava os dias de papo pro ar e ainda usufruía de auxílio-moradia, salário farto e verbas para viagens. Mas sua ambição era maior: e se, além de não fazer nada, ele dispusesse uma equipe de puxa-sacos para lhe servir, além de cartão corporativo ilimitado, acesso irrestrito a churrascarias, jet skis, passeios de barco?

E mais: após ser preso e processado pelo Exército, se eleito se vingaria ridicularizando as Forças Armadas como nunca antes na história deste país. Mostraria que, até nisso, era melhor do que seu inimigo de infância Carlos Lamarca.

Mais ainda: subverteria a democracia brasileira com um golpe de mestre. Bolsonaro protagonizaria uma campanha eleitoral sem propostas, mas cheia de acusações e inimigos. Depois de eleito, mostraria que o inimigo era ele mesmo. Suas acusações, na verdade, revelavam quem ele é.

Ilustração de Débora Gonzales

Prometeu lutar contra os ladrões vermelhos enquanto ocultava cheques do Queiroz para ficar no azul. Prometeu lutar contra a roubalheira pra depois descredibilizar a Lava Jato e descartar Sergio Moro. Na sua lógica, a melhor forma de acabar com a corrupção é não investigar ninguém.

Prometeu terrorismo real para evitar um terrorismo imaginário. Mais armas pra conter a violência. Desmatamento pra preservar o meio ambiente. Privatizações pra inflar o Estado. Criou um esquema de propagação de informações distorcidas para supostamente combater um esquema de informações distorcidas.

Pra aniquilar a velha política nepotista que ocupou as capitanias hereditárias de Maranhão, Alagoas, Pará, entre outras, criou a capitania hereditária do Vivendas da Barra, cujo lema seria “Os filhos justificam os meios”.

Bolsonaro encontrou o clima perfeito pra seu plano em 2018. Conseguia ser ouvido porque tinha lugar de fala: mamou nas tetas públicas a vida inteira e tinha autoridade para criticar quem fazia o mesmo.

Era ousado. Mas, se desse certo, lhe permitiria gozar férias eternas, cheio de regalias, enquanto o país ficava paralisado, perplexo, tentando entender o que estava acontecendo. Jair Bolsonaro, como se sabe, resolveu se candidatar a presidente.