Cuidado com a nova variante do bolsonarismo

Durante um ano, o presidente desarticulou os anticorpos brasileiros. Negou a vacina, apostou em tratamentos sem eficácia, provocou aglomerações, questionou o uso de máscaras, desencorajou a população a acreditar na letalidadade do coronavírus. Agora o agente desestabilizador se apresenta como antídoto.

A mutação de Jair Bolsonaro é perversa. Visa salvar um grupo específico, ensaia um recuo para ganhar sobrevida. Mas seu objetivo é claro: destruir o organismo inteiro.

A redução do desmatamento da Amazônia, por exemplo, não está incluída nessa nova variante paz e amor. Segundo o relatório anual feito pelo MapBiomas, a “área desmatada no Brasil em 2019 equivale a oito cidades de São Paulo”. E 99% do desflorestamento foi feito de maneira ilegal.

“O Elefante Negro”, reportagem da revista Piauí, mostrou a relação entre o desmatamento e o surgimento de novas doenças. “Um estudo de 2015 feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) concluiu que, ‘para cada 1% de floresta derrubada anualmente na Amazônia, há um aumento de 23% na incidência de malária e de 8% a 9% na de leishmaniose’, uma doença que, se não tratada, causa desfigurações e pode levar à morte”.

Além disso, “a degradação ambiental favorece o salto para espécies generalistas, as quais abrigam 75% de todos os vírus zoonóticos conhecidos. Dotadas de grande capacidade de adaptação, essas espécies tendem a prosperar quando perturbamos seu hábitat natural e extinguimos seus predadores. É o caso dos roedores ou do Aedes aegypti, na origem um mosquito silvestre que hoje habita confortavelmente as nossas cidades e as nossas casas. Da década de 1990 para cá, assistimos à emergência ou reemergência de oito vírus epidêmicos ou pandêmicos: H5N1 (gripe aviária), Sars-Cov, H1N1 (pandemia de gripe suína), Ebola, Mers-CoV, Zika, Chikungunya e Sars-CoV-2 (pandemia de Covid-19). É uma aceleração sem precedentes desse tipo de acontecimento”.

A pandemia de Covid-19 é causada por um vírus zoonótico, pois tem origem no reino animal. Assim como o mayaro e o oropouche, dois vírus amazônicos que recentemente entraram no radar dos cientistas.

Enquanto Bolsonaro posa de santo em sua perversa variante, sua política ambiental e a asfixia da ciência estimulam o aparecimento de novos vírus.

A nova variante do bolsonarismo dá uma sobrevida ao agente desestabilizador. E visa destruir o organismo inteiro.