Governo Bolsonaro cria Gabinete do Bode para estruturar sua procrastinação

Já acontecia de maneira desorganizada. O governo Bolsonaro tinha, no máximo, dois compromissos por dia marcados na agenda. Um almoço, uma viagem. Duas procrastinações.

Desde que assumiu, Bolsonaro tratou temas como a inflação, a pandemia e a fome com a mesma coerência. Ou seja, todos foram tratados com inércia.

Ciente de que estava na hora de profissionalizar seu ócio, o governo Bolsonaro criou o Gabinete do Bode. A partir de agora, haverá um planejamento estruturado para a criação de novos bodes que serão colocados na sala para jogar uma cortina de fumaça em problemas reais. E, claro, para permitir que Jair Bolsonaro continue sem trabalhar.

Ilustração de Débora Gonzales

O cronograma prevê a continuidade do Bode da Cloroquina na sala para abafar a inércia do governo em coordenar ações de isolamento, negociar vacinas, estruturar UTIs, desenvolver soluções alternativas.

Como observou Gregorio Duvivier, o Bode do Voto Impresso também continuará na sala como um Super Trunfo para desviar o assunto de questões pertinentes para as quais Bolsonaro não tem resposta, como a prevaricação diante das denúncias de Luis Miranda, os cheques de Queiroz na conta da Michelle, as acusações de interferência na Polícia Federal para proteger seus filhos, as denúncias da CPI.

O Gabinete do Bode também gerencia um estoque de pautas viscerais com o intuito de manter o ponto focal de engajamento no fígado, impedindo-o de tabelar com o cérebro. Sabe-se que o medo é a única mensagem concreta que Bolsonaro tem para manter sua base engajada.

O engajamento pelo fígado é a plataforma de governo para a eleição de 2022. Em vez de propostas para o país, estão na gaveta acusações de pedofilia contra todos os adversários políticos, teorias alienígenas, áudios alarmantes, comparações com a Venezuela, desfiles de tanques, ameaças golpistas e, principalmente, vídeos editados que sugiram conspirações ligando hackers petistas, George Soros, o PCC, os Tribalistas, Gargamel, as Farc, o Chupacabra, Nico Puig e Romero Britto.

Em paralelo, em parceria com a Academia Militar das Agulhas Negras, foi desenvolvido um gerador automático de desculpas conspiratórias. Dessa maneira, caso os brasileiros sintam na pele o aumento de preço do gás de cozinha, da carne, do peito de frango ou do arroz, o governo pode criar a tese de que a inflação ocorre por causa de um chip embutido nas tomadas de três pinos que emite um sinal bluetooth capaz de induzir o comunismo, por exemplo.