Renato Terra

Como seria o tradicional amigo secreto do governo Bolsonaro?

Renato Terra — Thu, 11 Nov 2021 20:00:02 +0000

O meu grande amigo secreto mora em Brasília e foi o organizador secreto deste amigo secreto. Ele votou a favor do governo na PEC dos Precatórios. É um filho dedicado. Sem avisar ninguém, fez uma surpresa: conseguiu verba secreta pra cidade em que o pai é prefeito.

O meu novíssimo amigo secreto admitiu ter recebido dinheiro de caixa dois do PT e renunciou para não ter seu mandato cassado. Não adiantou muito. Foi condenado à prisão pelo STF por corrupção e lavagem de dinheiro no mensalão. É um filho dedicado. Começou a carreira como chefe de gabinete quando seu pai era prefeito de Mogi das Cruzes.

O meu famoso amigo secreto foi preso em Atibaia. Adora negociar carros usados. Ano passado, ganhou um bonequinho do Tony Montana no rouba-presente. É cara que tem hábitos antigos. Ainda usa cheques, por exemplo. Sua cor preferida é o laranja.

O meu nobre amigo secreto também adora carros. Antigamente, curtia pilotar um Fiat Elba, mas hoje coleciona modelos de luxo. Em 2015, teve uma Ferrari e uma Lamborghini apreendidas pela Polícia Federal. Ah, ele também sofreu impeachment e confiscou a poupança dos brasileiros.

O meu pimpolho amigo secreto é um prodígio do mercado imobiliário. Construiu um patrimônio colossal comprando apartamentos e casas em dinheiro vivo. Hoje vive numa mansão de R$ 6 milhões.

O meu mezzo amigo secreto é uma pessoa com nervos de aço que nutre os sentimentos mais primitivos pelos corruptos. Foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo STF. Foi cassado em 2005 pela Câmara dos Deputados. Em agosto de 2021, foi preso de novo.

O meu fiel amigo secreto é 10% de mim no Supremo Tribunal Federal.

O meu velho amigo secreto gostava de cantar “Se gritar ‘pega centrão’, não fica um meu irmão”. Mas hoje diz que “O centrão era uma atividade metafórica”. Gosta de passar as horas vagas como um minucioso comentarista do Twitter.

Ilustração de Débora Gonzales

O meu oráculo e amigo secreto administra a economia pública do Brasil e bota sua economia privada fora do Brasil. Esse sabe muito.

Para celebrar o sucesso do meu amigo secreto, aumentei os gastos sigilosos com cartão corporativo, escondi minha carteira de vacinação no sapato, elevei para 200 anos o sigilo do julgamento que absolveu o general Eduardo Pazuello e para 500 anos o sigilo do processo que autorizou a matrícula de minha filha no Colégio Militar sem passar por processo seletivo.

Veja lista de possíveis declarações de Bolsonaro baseadas nos algoritmos das redes sociais

Renato Terra — Thu, 28 Oct 2021 20:00:39 +0000

Ciente da infinita capacidade dos algoritmos de transformar ignorância em engajamento, trago uma lista de sugestões para as próximas declarações do presidente.

Um renomado estudo britânico afirmou que misturar áries com sagitário pode causar gonorreia em cavalo.

Depois de serem evocados por Caetano Veloso em ritual subversivo e desvirilizante, os Anjos Tronchos do Vale do Silício apagaram a live de Bolsonaro.

Tomar leite com manga à noite pode derrubar o PIB da Micronésia e, com isso, aumentar o preço da gasolina.

Uma fotografia que a Nasa escondeu por anos mostra claramente que a Via Láctea é uma imensa mamadeira de piroca prestes a ejacular leite na matéria escura.

Comprar uma revistinha do Super-Homem gay causa verruga no dedo mindinho.

Relatório do Banco Mundial comprovou que o apoio ao lockdown negligenciando a economia provocou mudança no uivo de lobos selvagens da Etiópia. O som ora emitido, meio tom abaixo, alterou a rede de wi-fi local e, com isso, os celulares passaram a exibir vídeos da Pabllo Vittar para criancinhas.

Caso o PT volte ao poder, as carteiras de identidade terão um design assinado por Romero Britto.

Numa declaração recente, publicada em seu canal no Youtube, Drauzio Varella confirmou que varrer o pé de uma pessoa a impede de casar no futuro.

Injeções de ânimo provocadas por um coach podem causar furúnculos nas extremidades dos neurônios.

Vereadores de Sorocaba estão tentando conter uma onda de pânico depois que um jovem chinês morreu ao misturar TikTok, crossfit e bitcoin.

Ilustração de Débora Gonzales

Ouvido ao contrário, o novo disco de Caetano Veloso reproduz uma entrevista de Mangabeira Unger ao Roda Viva.

A Organização Mundial da Saúde recomenda cuidado com a Cuca, que a Cuca te pega, te pega daqui, te pega de lá.

Caso o ano de 2022 continue trazendo surpresas desagradáveis, o presidente Jair Bolsonaro possui um trunfo. Em sua gaveta, guarda a dezessete chaves uma informação confidencial bombástica que foi apurada por um renomado jornalista de sua confiança.

Caro leitor, respire fundo antes de prosseguir.

A informação que recebi AGORA é MUITO BOA. Assustadora, mas é boa. Ainda preciso verificar os detalhes, o resumo é esse: Alexandre de Moraes possui um vasto topete, mas quer comprovar as falhas no cocuruto. Para isso, precisou “deixar” o inimigo “agir”.

Governo Bolsonaro anuncia tratamento precoce contra CPI

Renato Terra — Thu, 21 Oct 2021 20:00:44 +0000

Jair Messias Bolsonaro apresentou hoje o protocolo para o tratamento precoce contra as denúncias feitas pela CPI. “Vamos aplicar, via Telegram e WhatsApp, um coquetel diário de narrativas anabolizadas, o Kit Bovid. A imprensa vai ficar com aquele blablablá de que não tem eficiência comprovada, mas eu garanto que nosso ecossistema vai ficar protegido”, explicou o renomado especialista Claudinho Cabeção.

Uma das primeiras iniciativas será a injeção imediata, pelas veias abertas do Twitter, de uma nova versão do PLACAR DA VIDA. Para quem não lembra, o PLACAR DA VIDA era um contador elaborado pela Secretaria de Comunicação que divulgava todo dia o número incrível de pessoas recuperadas da Covid. A versão anabolizada vai se chamar PLACAR DA LIBERDADE e servirá para divulgar diariamente o número de crimes que Jair Bolsonaro não cometeu em 24 horas.

Outra medida será o uso combinado dos medicamentos hidroxicarabina, hateralucina e fakedissemina. De acordo com a bula, a hateralucina é um remédio indicado para criar uma realidade paralela a fim de propagar uma ideologia política com fins eleitorais. A fakedissemina cria uma rede neural de propagação dessa realidade paralela. Em paralelo, a hidroxicarabina multiplica imagens de armas de fogo e, ao mesmo tempo, libera a posse e porte de fuzis. Mas é preciso ficar atento às contraindicações. A combinação exagerada desses três medicamentos já levou algumas democracias à UTI.

Ilustração de Débora Gonzales

Como tratamento profilático, o uso distorcido do conceito de hipocrisia será mantido para atacar adversários e anular as acusações. Por exemplo: “Como Renan Calheiros pode ser contra o uso de remédios para combater a Covid se ele mesmo tomou uma Novalgina quando estava com dor de cabeça na semana passada? Hipócrita!”. Ou então: “Randolfe Rodrigues acusa Bolsonaro de prevaricação, mas ele mesmo não faz nada para engrossar aquela voz fina. Hipócrita!”.

Eduardo Bolsonaro tem viagem marcada para verificar o andamento das pesquisas com o spray israelense de pimenta. Os jatos da medicação serão eficientes para afastar investigadores e, no futuro, evitar o contato com agentes públicos portando mandados de prisão.

O Ministério da Economia anunciou uma parceria com o pastor Silvio Malaiala para garantir que os investidores que venham a morrer terão lugar garantido no Paraíso Fiscal.

‘Round 6’ ganha versão brasileira, com governo Bolsonaro como protagonista

Renato Terra — Fri, 15 Oct 2021 18:44:54 +0000

A série “Round 6”, da Netflix, pode ser resumida assim: adultos endividados e ressentidos competem numa sequência de jogos infantilizados que descambam para uma violência descomunal.

Cientes das semelhanças com o Brasil contemporâneo, os roteiristas do governo Bolsonaro tiveram pouco trabalho para adaptar a série. O lançamento será em outubro de 2022.

Na versão brasileira, milhares de adultos receberão a convocação pelo Telegram: uma imagem semelhante a um cartão corporativo com o desenho de um triângulo com um olho no meio.

Todos que quiserem brincar deverão ficar alinhados diante do STF onde haverá uma gigantesca boneca com o rosto de Eduardo Bolsonaro.

A boneca vai virar de costas para os participantes e cantar: “Bananinha frita um, dois, três”. Ficará virada pelo tempo que Eduardo levava para fritar três hambúrgueres no frio do Maine.

Os participantes deverão se locomover em direção ao STF o mais rápido possível enquanto a boneca estiver de costas. Todos devem parar imediatamente —e permanecerem estáticos— quando o grande rosto de Eduardo Bolsonaro mirá-los de frente novamente. Quem ousar se mover levará um jato de golden shower.

Ilustração de Débora Gonzales

Aqui, há uma grande diferença em relação à série, pois serão os participantes que estarão aptos a dar tiros.

Quem sobreviver passará para a próxima fase.

Os roteiristas elaboram ainda outras adaptações das próximas brincadeiras da gincana bélica brasileira para adultos infantilizados para o ano que vem.

Há rumores de que uma variante do tradicional chicotinho queimado ajudará espalhar fogo na Amazônia ao mesmo tempo que o chicotinho sibilará nos lombos de sinhás pretas.

Blogueiros aliados ao governo e alguns caminhoneiros já estão treinando no exterior para o aguardado esconde-esconde.

Uma brincadeira, no entanto, ainda está em discussão. O presidente Jair Bolsonaro resolveu interferir pessoalmente no jogo polícia e ladrão. Fontes ligadas ao governo revelaram que o presidente não está satisfeito com a escalação das duas equipes e quer inverter posições, indicar aliados e alterar as regras.

Quem chegar até a fase final terá de sobreviver a um desafio do mundo dos adultos: ir ao supermercado e encher um
tanque de gasolina com um salário mínimo.

O vencedor, se houver, será agraciado com 48 depósitos de R$ 2.000.

Só os milicianos são livres, e esse tipo de emancipação não tem pra todo mundo

Renato Terra — Thu, 07 Oct 2021 22:15:41 +0000

Seguinte: tomei a liberdade de colocar o Renato Terra num cativeiro até semana que vem. Depois que assumi a liderança da milícia aqui da região eu descobri que a liberdade é uma maravilha.
Por exemplo, eu conquistei a liberdade de omitir o meu nome completo. Como eu gosto de elaborar meus pensamentos, todo mundo me conhece como Klebinho Filósofo.

O recado que eu quero mandar aqui é pros recalcados que querem ser como eu.

Se hoje eu tenho liberdade de andar armado, de mandar prender e de mandar soltar foi porque eu conquistei. Com o suor do meu trabalho de achacar geral, tenho hoje uma condição que me dá o direito de não respeitar esses mimimis aí de Código Penal, passaporte de vacina, tomada de três pinos.

Ilustração de Débora Gonzalez, publicada em 7 de outubro de 2021

Sou o exemplo vivo da meritocracia brasileira.

E se tem uma coisa que dá certo no Brasil de hoje é milícia. A gente é tipo o Vale do Silício dessa parada. No Rio de Janeiro tem até unicórnio do crime.

Não me chamam de Filósofo à toa. Sei que tem uma galera aí que fica espalhando nossa ideologia pra ver se ganha uma boquinha. Tá cheio de maluco batendo na tecla de que liberdade de escolha é tipo um passe livre pra fazer merda: andar armado, não tomar vacina, correr de carro que nem um alucinado, queimar tudo que é mato e foda-se.

Isso é a ideologia da milícia, irmão. A gente quer é desistir de viver em sociedade. É largar mão de pelo menos se esforçar pra que outras pessoas tenham liberdade. É pensar que a liberdade que vale é só a minha.

E é por isso que tô dando esse aviso aqui.

Esse tipo de liberdade não tem pra todo mundo, não. Só cabe um rei em cada reino. Pra eu ter minha liberdade de fazer o que eu quiser aqui, irmão, tem uma porrada de soldado garantindo o meu lado. E tem uma porrada de morador assustado que paga caro pra eu ter minhas mordomias. É todo um sistema de pirâmide, e eu tô no topo.

Eu é que posso ter a liberdade de escolher a sinhá preta que eu quiser. Eu é que posso colocar fuzil na mão de criança. Eu é que posso invadir tribunal e fazer do espaço público o quintal da minha casa. Além de chefe de milícia, como eu disse, eu sou filósofo.

Fica o recado aí então. Vocês tão corroendo a sociedade toda, colocando arma na mão de todo mundo. Essa porra toda vai virar miliciocracia. Aí a gente vai ver quem sobrevive à lei do mais forte. E quem vai ter liberdade de escolha nessa merda.

Tenta a sorte, parceiro.

E se Drauzio Varella abandonasse a medicina para comentar vôlei?

Renato Terra — Thu, 23 Sep 2021 20:00:50 +0000

Foi uma guinada inesperada, mas sintonizada com o espírito do tempo.

Drauzio Varella era um médico cancerologista formado pela USP. Dirigiu o serviço de Imunologia do Hospital do Câncer em São Paulo por duas décadas. Foi um dos primeiros a tratar a Aids no Brasil. Publicou 15 livros. Com conhecimento colossal e aptidão para a divulgação científica, se tornou uma das maiores autoridades em medicina no país.

De uma hora pra outra, no entanto, Drauzio resolveu opinar sobre vôlei.

Drauzio nunca havia jogado vôlei.

Criou um canal no Youtube e, no primeiro vídeo, teve a coragem de dizer a verdade abafada pelos barões que controlam o esporte internacional. Drauzio defendeu um vôlei jogado sem as mãos.

O vídeo repercutiu e alçou Drauzio a porta-voz de uma minoria silenciada. Foi convidado a programas como contraponto a jogadores renomados, medalhistas olímpicos, que defendiam o uso das mãos nos jogos de vôlei. Afinal, era preciso ouvir os dois polos do debate.

A discussão ganhou corpo e uma multidão ameaçou invadir o Maracanãzinho caso a ditadura das mãos não fosse revogada nos jogos de vôlei. Foram apontados indícios de fraudes em jogos importantes que foram vencidos com o uso das mãos. Cartazes foram erguidos com frases como “our volleyball rules are dictator” e “mãos ao alto, você já foi assaltado”. Manifestantes exigiram a destituição imediata das seleções masculinas e femininas.

Ilustração de Débora Gonzalez, publicada em 23 de setembro de 2021

Drauzio gravou um segundo vídeo defendendo que a bola de vôlei deveria ter liberdade de escolha. O bloqueio seria uma imposição ditatorial? O saque interferia no arbítrio daquela esfera que estava estacionada em paz no canto da quadra?

Drauzio foi convidado a programas esportivos como contraponto a jogadores renomados, medalhistas olímpicos, que defendiam que os atletas teriam o direito de interferir no curso natural da bola.

Como comentarista de vôlei, Drauzio ficou muito rico. Seus vídeos viralizaram e renderam fortunas em anúncios. Milhares se tornaram assinantes do seu site drauziovoleilivre.com.br. Drauzio foi contratado como comentarista para alavancar a audiência de uma rádio e de uma rede de TV. Encantou multidões com sua coragem de atacar Bernardinho, que passou anos induzindo os jogadores de vôlei a usarem as mãos. Escreveu livros mostrando como a imposição de regras cerceava a liberdade de infringi-las.

Foi uma guinada inesperada, mas sintonizada com o espírito do tempo. Todo mundo entendeu quando Drauzio largou a medicina.

Rejeição de Bolsonaro já sobe mais que a gasolina

Renato Terra — Thu, 16 Sep 2021 20:26:48 +0000

Pesquisa divulgada pelo Data Folha mostrou o que nenhum brasileiro esperava: alguma coisa no Brasil cresce mais rápido que o preço da gasolina. “Por incrível que pareça, a rejeição de Bolsonaro subiu mais que a inflação dos combustíveis”, explicou o matemático Zé Tristão Garcia.

Procurado, Paulo Guedes disse que a rejeição deveria estar descendo, mas barulho político não deixa.

Bolsonaro, num primeiro momento, colocou a culpa nos governadores. Em seguida, resolveu desviar o assunto jogando numa nova bomba política no ar. O presidente afirmou ter provas de que o Ministro Alexandre de Moraes, do STF, possui um vasto topete. Apoiadores de Bolsonaro exigiram então que a careca de Moraes passasse a adotar a margem de erro.

Fiéis afirmam ter visto imagem da terceira via numa vidraça da Fiesp

Renato Terra — Thu, 16 Sep 2021 19:02:00 +0000

Milhares de peregrinos se aglomeram em oração na avenida Paulista depois que uma criança teve uma visão. Michelzinho Barros dos Santos Muniz, de cinco anos, caiu de joelhos quando notou a silhueta de um candidato da Terceira Via em uma mancha formada na vidraça superior do segundo andar da janela lateral do prédio da Fiesp.

O local se tornou ponto de peregrinação de investidores do mercado financeiro do Brasil e exterior. Numa coincidência divina, uma revoada de tucanos passou a poucos metros.

“É um sinal”, afirmou Edmar Bacha, com os olhos molhados e a voz trêmula. Depois de dizer que “Bolsonaro é risco à democracia e Lula é risco à economia”, especialistas garantem que o terceiro segredo de Bacha está prestes a ser revelado.

“Estamos prestes a presenciar o milagre da multiplicação de empregos”, disse, em tom de oração, um editorialista. “Desde a aprovação da reforma trabalhista eu não estava tão otimista”, completou enquanto caminhava com uma vela acesa.

Ilustração de Débora Gonzalez, publicada em 16 de setembro de 2021

João Doria permaneceu mudo por 45 minutos diante da Fiesp. Devido ao uso extensivo de botox no rosto, esta reportagem não conseguiu identificar se o governador estava eufórico, dilacerado ou apenas reflexivo.

Membros da elite partiram em romaria para um novo jantar com Michel Temer. “Ele é o único homem ungido pela vaselina benta e que, portanto, tem as credenciais para decodificar esta aparição numa carta ou poema”, explicou Elsinho Mouco.

Minutos após a primeira aparição da Terceira Via, a Bolsa subiu, o dólar caiu, o PIB quintuplicou e o MBL voltou a reunir multidões.

Às cinco da madrugada, fiéis afirmaram ter presenciado mais dois milagres: “Eu vi com meus próprios olhos o Geraldo Alckmin ressuscitar e, com os passos de um dândi, caminhar sobre as águas do rio Tietê”, afirmou Eduardo Carvalho Monteiro da Costa, conhecido como Dudu do Bitcoin.

Exatamente no mesmo horário, a influencer Claudinha Pontes Medeiros Vaz da Fonseca jurou ter visto Aécio Neves caminhando em cima de um muro nos Jardins. “Ele flutuava como uma entidade encantada”, assegurou.

Para celebrar a primeira aparição da Terceira Via, Paulo Skaf prometeu uma nova versão do pato inflável que marcou a campanha pelo impeachment da Dilma. “Dessa vez, vamos inflar uma candidatura capaz de derrotar Lula e Bolsonaro”, prometeu.

Pelo direito de discordar do MBL, eu vou à manifestação organizada pelo MBL

Renato Terra — Thu, 09 Sep 2021 20:00:58 +0000

Os craques Gregorio Duvivier e Sérgio Rodrigues escreveram colunas comparando o atual momento com o 7 a 1. Até concordo que o 7 a 1 foi trágico, o gol de Oscar foi lindo, mas tem um ponto fundamental aqui: tudo aquilo aconteceu dentro das quatro linhas.

O que acontece hoje é diferente. É como se torcedores saíssem das arquibancadas, sequestrassem o juiz, depois invadissem a sala do VAR. Lá dentro, fariam todos os juízes reféns e, na base da truculência, exigiriam que o Brasil passasse para a final da Copa.

Imagine se a regra, a partir daí, fosse essa: uma minoria barulhenta de bandidos baderneiros querer determinar o resultado da partida ameaçando os juízes. Torcedores de Brasil e Alemanha, mesmo separados nas arquibancadas, teriam se chegado na indignação. Sem a disputa dentro de campo, a rivalidade entre Fluminense e Flamengo não faria mais sentido. Corinthians e Palmeiras. Grêmio e Internacional.

Ilustração de Débora Gonzalez, publicada em 9 de setembro de 2021

Sempre estive em arquibancadas opostas ao Movimento Brasil Livre. Discordo de suas ideias, métodos e ações. Mas é justamente para garantir o direito democrático de discordar que irei às manifestações do dia 12. É preciso dar uma resposta colossal à escalada autoritária da minoria barulhenta.

A democracia tem disso aí. A gente se fechou nas bolhas das redes sociais, mas o ruído, a discordância e o atrito fazem parte do jogo. Não é hora de ficar em casa esperando alguém organizar uma manifestação só dos seus. Aglutinar pessoas diferentes é a resposta democrática que se faz urgente.

Depois que a maioria dos brasileiros deixar claro que não quer uma nova ditadura, depois que esse pesadelo autoritário acabar, a gente volta a criticar o MBL. E o MBL volta a criticar a esquerda. E a esquerda volta a criticar a esquerda.

Espero que, daqui pra frente, o MBL jogue dentro das quatro linhas. Fake news, posições autoritárias, pedidos de remoção de ministros do STF, ataques a jornalistas fazem parte da trajetória do MBL e ajudaram a criar o monstro que combatemos.

Pelo direito de discordar do MBL, eu vou à manifestação organizada pelo MBL. Pela intuição, talvez ingênua, de que os grupos podem rever suas posições iniciais. Mas, principalmente, por entender que há uma real ameaça à democracia.

A cada dia que a maioria permanecer em silêncio, o ruído da minoria barulhenta aumentará. Até que precisaremos ficar mudos. De novo.

Se Bolsonaro der o golpe, como serão os primeiros dias no Brasil sob esse ditador atípico?

Renato Terra — Thu, 26 Aug 2021 20:00:01 +0000

Dia 1: A família é a célula mater da sociedade. Por isso, Jair Bolsonaro vai derrubar todos os pesos e contrapesos que impedem sua família de ser o Estado. O ponto mais urgente será atacado no primeiro dia —seus filhos investigarão, julgarão e punirão os esquemas de corrupção de seus filhos. STF, Polícia Federal, imprensa e todos os entraves para rachadinhas, trocas de favores, compra superfaturada de vacinas e negociação de imóveis em dinheiro vivo serão detonados.

Dia 2: Protegida por seu exército, a família Bolsonaro controlará a distribuição de gás, o fornecimento de gasolina, a luz elétrica, o transporte de massas e o gatonet. Paramilitares baterão de porta em porta para coletar as tarifas e, a fim de garantir a liberdade de cada comunidade, cobrarão uma tarifa.

Dia 3: Para acabar com a concorrência, Bolsonaro destituirá governadores e prefeitos.

Dia 4: Com os filhos protegidos e um esquema financeiro de pirâmide estatal montado, Bolsonaro passará o resto de sua vida como sempre quis, sem fazer nada. Vez ou outra fará uma ameaça, visando a continuidade da cultura do medo.

Ilustração de Débora Gonzalez, publicada em 26 de agosto de 2021

Dia 5: Para acabar com as fraudes nas eleições, Bolsonaro acabará com as eleições.

Dia 6: Para acabar com chantagens do Congresso, Bolsonaro acabará com o Congresso.

Dia 7: Bolsonaro andará de jet ski, comerá camarão com leite condensado e descansará.

Dia 8: Dada a alta da inflação dos alimentos, Bolsonaro tomará uma atitude drástica —exigirá que a população compre alimentos somente de sua família. Eduardo fritará hambúrgueres a R$ 670, Flávio venderá chocolates e Carluxo assumirá a feira. De tarde, Bolsonaro jogará peteca com Malafaia.

Dia 9: A contragosto, Bolsonaro irá inaugurar uma loja da Havan com uma estátua sua.

Dia 10: Os indicadores serão péssimos. Inflação incontrolável, desemprego altíssimo, fome batendo recordes. Milícias rivais tentarão tomar o controle do Estado. Milhares morrerão diariamente por causa de doenças que seriam evitadas por vacinas. Em reunião de emergência com seus filhos, Bolsonaro resolverá agir —nomeará governadores para cada um dos estados brasileiros. Em seguida botará a culpa da crise neles.

Renato Terra

Como seria o tradicional amigo secreto do governo Bolsonaro?

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Governo Bolsonaro anuncia tratamento precoce contra CPI

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‘Round 6’ ganha versão brasileira, com governo Bolsonaro como protagonista

Só os milicianos são livres, e esse tipo de emancipação não tem pra todo mundo

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Rejeição de Bolsonaro já sobe mais que a gasolina

Fiéis afirmam ter visto imagem da terceira via numa vidraça da Fiesp

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Pelo direito de discordar do MBL, eu vou à manifestação organizada pelo MBL

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