O TOCANTE À ‘CUESTÃO’ 1
A cloroquina é eficiente pra curar a gripezinha?
a) PRA CARALHO
b) Positivo
c) Não há comprovação científica*
d) Tá lendo a letra “D” por quê? Já não achou a porra da resposta correta?
*Caso tenha escolhido a letra C, insira o seu endereço completo e número de telefone.

Leia Mais

✕ Veja novamente

Volte

Volte

Compartilhe

• Facebook
• Twitter
• Whatsapp
• Linkedin
• E-mail
• Messenger
• Copiar link

O TOCANTE À ‘CUESTÃO’ 2
“O conluio dos que são contra a maneira diferente de governar e usam mascaradamente um discurso bonito começa a eclodir. Tudo para volta dos que possibilitem seus interesses… Vão somando e notem que alguns chegam a ser surpreendentes! O sistema irá até aonde muitos não imaginam!”

No texto acima, o filósofo Carlos Bolsonaro mostra que o Brasil não dá certo por culpa de qual desses vagabundos?
a) Dos traíras vermelhos com seus porcarias
b) Dos gulosinhos biografados
c) Das prostitutas do sistema
d) Toda essa corja acima

O TOCANTE À ‘CUESTÃO’ 3
Se o PT voltar ao poder:
a) Vai ter canibalismo, pederastia e ateísmo nas ruas
b) Seu cu será propriedade do Estado
c) O hino nacional será desconstruído por Tiago Iorc
d) Seu filho terá o dedo mindinho cortado se não quiser se sodomizar

O TOCANTE À ‘CUESTÃO’ 4
Assinale a ditadura que tá errada nisso aí:
a) “Catar”
b) Emirados Árabes
c) Bahrein
d) Vai pra Cuba fazer o Enem, seu vagabundo!

O TOCANTE À ‘CUESTÃO’ 5
A voz do Sergio Moro é:
a) Fina
b) Melindrosa
c) De “viadx”
d) Aveludada

Jovem, se você completou 18 anos, aliste-se ao Exército e inscreva-se nos meus grupos de Telegram.

Assim sendo, apresento algumas fake news que conquistaram o status de lendas urbanas. De tão elaboradas, continuam circulando pela tradição oral. Tudo indica que as novas gerações passaram essas histórias adiante.

Adultos de todas as idades, por exemplo, acreditaram na lenda de que a reforma trabalhista geraria empregos. Assim falou Vampiro, em latim: “A Lua cheia vai elevar os níveis da maré e do PIB quando o primeiro emprego for gerado por causa da reforma trabalhista. Toda a natureza será curada quando ficar livre da CLT e a Amazônia, por se tornar sagrada, jamais arderá em chamas. A uberização de Gaia nos salvará”.

Leia Mais

✕ Veja novamente

Volte

Volte

Compartilhe

• Facebook
• Twitter
• Whatsapp
• Linkedin
• E-mail
• Messenger
• Copiar link

A segunda lenda urbana que rodou nos altos círculos sociais foi a seguinte: quando as empresas aéreas iniciarem a cobrança pela bagagem, o preço das passagens será reduzido. De tão óbvia, a relação de causa e efeito provocará uma cascata de relações de causa e efeito de semelhante obviedade. Quando um touro dourado bater asas em Dubai, o preço da gasolina vai cair no Brasil. O que provocará, de forma inequívoca, uma nova composição de Tiago Iorc, cujas ondas sonoras provocarão uma fina sintonia entre Gaia, o Zeitgeist e o Uber.

Poucos saberão como reagir quando a terceira lenda urbana entrar em vigor. Sua máxima é clara: o VAR acabará com os erros de arbitragem. Um alinhamento cósmico se formará nos céus dando uma nova formação às constelações conhecidas como Delta do Urubu e Supernova da Fiel. A previsão é de caos. Nações inteiras vagarão, sem direção, pelos becos e vielas sem saber como agir diante de uma nova realidade em que as regras são aplicadas de forma igual para todos.

A lenda mais recente surgiu do retumbante Oráculo de Chicago: “Nuvens oriundas dos paraísos fiscais molharão o orvalho com gotas de cloroquina quando a reforma da Previdência gerar mais de R$ 1 trilhão para os cofres públicos”.

O meu novíssimo amigo secreto admitiu ter recebido dinheiro de caixa dois do PT e renunciou para não ter seu mandato cassado. Não adiantou muito. Foi condenado à prisão pelo STF por corrupção e lavagem de dinheiro no mensalão. É um filho dedicado. Começou a carreira como chefe de gabinete quando seu pai era prefeito de Mogi das Cruzes.

O meu famoso amigo secreto foi preso em Atibaia. Adora negociar carros usados. Ano passado, ganhou um bonequinho do Tony Montana no rouba-presente. É cara que tem hábitos antigos. Ainda usa cheques, por exemplo. Sua cor preferida é o laranja.

Leia Mais

✕ Veja novamente

Volte

Volte

Compartilhe

• Facebook
• Twitter
• Whatsapp
• Linkedin
• E-mail
• Messenger
• Copiar link

O meu nobre amigo secreto também adora carros. Antigamente, curtia pilotar um Fiat Elba, mas hoje coleciona modelos de luxo. Em 2015, teve uma Ferrari e uma Lamborghini apreendidas pela Polícia Federal. Ah, ele também sofreu impeachment e confiscou a poupança dos brasileiros.

O meu pimpolho amigo secreto é um prodígio do mercado imobiliário. Construiu um patrimônio colossal comprando apartamentos e casas em dinheiro vivo. Hoje vive numa mansão de R$ 6 milhões.

Leia Mais

✕ Veja novamente

Volte

Volte

Compartilhe

• Facebook
• Twitter
• Whatsapp
• Linkedin
• E-mail
• Messenger
• Copiar link

O meu mezzo amigo secreto é uma pessoa com nervos de aço que nutre os sentimentos mais primitivos pelos corruptos. Foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo STF. Foi cassado em 2005 pela Câmara dos Deputados. Em agosto de 2021, foi preso de novo.

O meu fiel amigo secreto é 10% de mim no Supremo Tribunal Federal.

O meu velho amigo secreto gostava de cantar “Se gritar ‘pega centrão’, não fica um meu irmão”. Mas hoje diz que “O centrão era uma atividade metafórica”. Gosta de passar as horas vagas como um minucioso comentarista do Twitter.

O meu oráculo e amigo secreto administra a economia pública do Brasil e bota sua economia privada fora do Brasil. Esse sabe muito.

Para celebrar o sucesso do meu amigo secreto, aumentei os gastos sigilosos com cartão corporativo, escondi minha carteira de vacinação no sapato, elevei para 200 anos o sigilo do julgamento que absolveu o general Eduardo Pazuello e para 500 anos o sigilo do processo que autorizou a matrícula de minha filha no Colégio Militar sem passar por processo seletivo.

Excêntrico até na maneira de promover sua campanha, Moro vazou um novo áudio bomba de uma ligação interceptada. “Bessias, pode trazer a ficha de filiação ao Podemos”, diz a presidenta Renata Abreu. E Moro responde: “Se não for causar melindre à minha conje, queria dizer: Olar, querida”.

Exemplos de propostas originais não lhe faltam. Além de transferir a capital da República para Curitiba, o candidato da terceira vara revelou outras promessas de campanha: “Prometo prender todos os meus concorrentes”. Ao ser informado de que não é mais juiz, Moro retrucou: “Também nunca fui político”.

Leia Mais

✕ Veja novamente

Volte

Volte

Compartilhe

• Facebook
• Twitter
• Whatsapp
• Linkedin
• E-mail
• Messenger
• Copiar link

Exímio estadista, daqueles que calam fundo na alma do homem mais simples da Faria Lima, Moro não precisa de muito para fazer tanto pelo povo. Com a mão no queixo, o semblante rústico de um autêntico herói nacional e o olhar perdido no Ipiranga, Sergio Moro revelou um sonho: “Na minha cerimônia de posse, não quero saber de Rolls-Royce. Vou colocar a faixa presidencial no peito e deslizar pelo
lago Paranoá num pedalinho”.

Exatamente como fez em toda sua carreira, ele quer se cercar de gente competente em que possa confiar. Para ajudar na sua campanha, Moro recrutou três ex-mosqueteiros no Ministério Público Federal. Especula-se que um quarto mosqueteiro também vai ajudar nos bastidores. “Eu prefiro não citar nomes ainda, vamos trabalhar com o pseudônimo de D’Artagnan Delatol para o cargo de vice-presidente”, preferiu.

Exemplos de humildade não faltam ao candidato da terceira vara. Com incentivo do Podemos, matriculou-se no curso de oratória e fonoaudiologia de Simon Wajntraub.

Ex-juiz, ex-ministro, ex-candidato-ao-STF, exegeta, futuro ex-colunista, ex-super-homem-hétero, o ex-Moro revelou os seus planos para o caso da candidatura fracassar. “Vou incluir mais uma honraria ao meu currículo. Participarei de um reality show comigo mesmo: ‘De Férias com meus Ex’”.

Em seguida, discordou de si mesmo e desistiu da ideia.

Ao saber das movimentações de Sergio Moro, Lula ergueu os dedos indicadores e fez o movimento de um quadrado. “Cadê o VAR?”, perguntou.

A exemplo do que se fez com a cloroquina, a ideia era atribuir novos efeitos curativos ao medicamento simplesmente alterando sua bula.

Uma fonte ligada à estratégia militar para a Saúde afirmou que a pasta também pretendia alterar a bula da Novalgina para que lhe fosse atribuído o poder de transformar água em vinho; nas bulas dos remédios à base do canabidiol constaria, entre os efeitos colaterais, que “este remédio pode provocar comunismo”.

Em paralelo, o general Eduardo Pazuello coordena com as Forças Armadas o desenvolvimento de uma extensão do aplicativo de localização Waze. Documentos secretos revelam que o Pazuwaze adotará a voz de Pazuello para recomendar caminhos e direções.

Testes preliminares do Pazuwaze indicaram as seguintes orientações para quem pretendia ir de Copacabana para Ipanema: “Vire à direita no Canal de Suez. Em seguida, pegue a avenida Paulista por 20 quilômetros até o município de Patópolis. Depois, se você está contente, bata palmas. Sua previsão de chegada é no dia D e na hora H”.

Novas técnicas de camuflagem também estão sendo desenvolvidas pela alta cúpula do Exército brasileiro para proteger o general de dez estrelas que fica atrás da mesa com o celular na mão. Trata-se de uma mistura da cor de burro quando foge com um extrato de óleo de peroba.

O setor de inteligência também estuda manobras mais sofisticadas: bigode, chapéu coco e óculos de armação preta para que o general Pazuello possa se camuflar de Mr. Potato Head e, com isso, não ser reconhecido nunca mais.

Uma força-tarefa também foi criada por um cabo e um soldado para reunir todo o leite condensado comprado pelas Forças Armadas em dezenas de containers com o objetivo de melar a CPI.

Caso nenhum desses estratagemas funcione, não estão descartadas armas guardadas a sete chaves. O Ministério da Defesa possui um orçamento secreto para a compra de tortas na cara, cascas de banana, esguichos de água e, principalmente, a aquisição de quantidades industriais de marmelada.

É a força motriz de suas políticas públicas. Afinal, não há capacidade de investimento para que o Estado consiga acompanhar essa mania de a pessoa querer viver cem anos.

A diretriz foi dada em 1999: “Só vai mudar infelizmente quando partirmos para uma guerra civil, fazendo um trabalho que o regime militar não fez. Matando uns 30 mil”.

Bolsonaro está acima da meta. Para manter a alta produtividade, o governo federal oficializou os seguintes programas:

Programa de Aceleração do Coronavírus: Em vigor desde o início da pandemia, o projeto de estímulo à Covid-19 agora ganha um nome. Entre as principais realizações estão as 11 ofertas rejeitadas para compra de vacinas, as recusas em orientar a população sobre o uso de máscara e o distanciamento social, as tentativas de distorcer dados oficiais e as aglomerações provocadas pelo presidente.

Criou-se um ambiente tão eficiente para a propagação da doença que ministros de Estado se esconderam para tomar a vacina. Bolsonaro, apesar de já ter idade, segue sem ser vacinado (ao menos em público).

Ciência Zero: A política de descrédito da ciência é extremamente eficiente. Não se acredita mais em dados, pesquisas e conhecimento para a formulação de políticas públicas. A opinião de um ex-aluno de Olavo Carvalho vale mais que os dados apresentados pelo físico Ricardo Galvão, que tem pós-doutorado no MIT e coordenou o Inpe.

Com isso, políticas públicas para a Amazônia incluem o competente extermínio de toda uma biodiversidade, o estímulo ao surgimento de novos vírus oriundos da floresta e o fim do regime de chuvas.

Sonho da Arma Própria: A criação de um imaginário popular exaltando pistolas, escopetas e fuzis foi acompanhada de iniciativas como o corte de impostos, o esmorecimento da fiscalização e das regulamentações e, de quebra, a redução do rastreamento de munições.

Importante destacar também as mudanças no Código de Trânsito que premiam infratores. E o êxito da política macroeconômica com o Programa Fome para (Quase) Todos.

Como, para o governo, a liberdade é fundamental, essas políticas garantem aos brasileiros a liberdade de escolher como preferem morrer.

1) A Bananinha Republic é um projeto de Brazil cuja finalidade é avacalhar qualquer projeto de Brasil.

2) A Bananinha Republic deve ter um chefe de Estado que rejeita a instituição de Estado. Apequena o país para poder moldá-lo ao seu quintal.

3) A Bananinha Republic cozinha o Brazil num caos permanente para depois reparti-lo em fatias e servir, com leite condensado, numa bandeja.

Para que a Bananinha Republic continue logrando êxito, alguns novos projetos se apresentam de forma inadiável.

Meu Exército, Minha Milícia

As Forças Armadas devem dar uma bananinha para a Constituição. Atuarão como seguranças do Líder Supremo e de seus familiares. Os leões de chácara da Bananinha Republic têm o dever de destruir a liberdade de quem não concorda com a interpretação que o Líder Supremo dá para liberdade.

Sítio de Estado

Para que a imprensa comunista pare de jogar holofotes turvos sobre o talento imobiliário dos filhos do Líder Supremo, a Bananinha Republic decretará o Sítio de Estado. Todas as chácaras, mansões, fazendas, sítios passam a ser propriedade do Estado. Há que se levar em conta que o Estado é propriedade do Líder Supremo.

Sistema Deus Vult de Saúde

Todo conhecimento científico será abandonado para que a sabedoria do Líder Supremo cure a população. A cloroquina será adotada como tratamento precoce para todas as doenças, angústias, acidentes domésticos e mau-olhado. O Placar da Vida será adotado como estatística oficial: a Bananinha Republic saberá diariamente quantas pessoas estão curadas de tuberculose, tifo, peste bubônica e comunismo.

Programa de Aceleração do Armamento

Os cidadãos de bem poderão adquirir armas de fogo desde que seus anseios de liberdade estejam alinhados com a interpretação que o Líder Supremo dá para a liberdade. Ou seja: as armas poderão ser usadas para o garimpo, a invasão de terras indígenas, a destruição da floresta e sobretudo para evitar o comunismo.

O Programa de Aceleração do Armamento tem função estratégica na Bananinha Republic. Seu objetivo a médio prazo é eximir o Estado de qualquer política pública de segurança. E também eximir o Estado de qualquer ação coordenada de combate ao desmatamento. Atuará de maneira integrada com o programa Meu Exército, Minha Milícia.

O Programa de Aceleração do Armamento é o mais contundente avanço em direção a uma das cláusulas pétreas: a Bananinha Republic tem um chefe de Estado que rejeita a instituição de Estado.

Um dia, deitado no sofá, o jovem Jair Bolsonaro sentiu a boca seca. O desejo de aplacar a sede sem ter o trabalho de se levantar para buscar um copo d’água lhe provocou uma inquietação. Então Bolsonaro resolveu ter filhos.

Flávio nasceu em 1981. Quando o médico lhe deu um tapinha no bumbum, o bebezinho tossiu: “Coaf! Coaf!”. Aqueles que foram visitar o recém-nascido na maternidade ganharam chocolates Kopenhagen. Foi o caso do amigo Fabrício Queiroz, que lhe deixou um pepino de presente.

Assim que começou a andar, Flávio buscava copos d’água para o pai. Mas, ainda jovem, foi diagnosticado com síndrome vasovagal, que lhe provocava desmaios em situações inusitadas. Ele precisava de alguém para rachar as tarefas domésticas.

Carlos nasceu em 1982. Seu sistema cognitivo se desenvolveu de forma sui generis. Com cinco meses, já buscava copos d’água para o pai. Aos dois anos, aprendeu a passar um café. Aos 14, ainda não falava: apenas farejava e mordia quem se aproximava do pai. Engatinhou até os 16 anos.

Um dia, já adolescente, pressionado a dividir o lanche com amiguinhos, Carlos soltou suas primeiras palavras: “O velho teatro das tesouras volta a agir mais descarado: os traíras vermelhos com seus porcarias, alinhados com os tucanos e seus gulosinhos biografados! Só observar o movimento de rodízio das prostitutas nas últimas décadas! A roupagem muda, contudo, o rabo sempre fica de fora!”. Os amiguinhos permaneceram imóveis por 20 minutos, enquanto Carlos mastigava encarando-os fixamente. O segundo filho de Bolsonaro precisava de alguém que fritasse mais hambúrgueres para seu lanche.

Eduardo nasceu em 1984 e logo foi considerado o gênio da família. Aos 16 anos já sabia desenhar, ler e escrever. Foi o único a tentar trabalhar. Passou num concurso público e se tornou escrivão da Polícia Federal. Fez intercâmbio. Era visto com uma ovelha negra dentro do habitat do Boi Rosa (a filosofia do Boi Rosa é descrita no capítulo anterior).

Logo os três filhos abandonariam suas ambições pessoais para se dedicar a uma causa maior: o pai. O velho Jair poderia se refestelar no sofá enquanto os filhos traziam água, projetos e votos. E açaí.

Mais perdido que gafanhoto no meio de ciclone bomba, Bolsonaro, sem saber, nos deu a imagem perfeita de seu governo: Carlos Alberto Decotelli. De tanto embaçar os limites de verdade e ficção, Decotelli agora pode incluir em seu currículo um cargo inédito: ex-ministro que nunca assumiu.

É justamente esse limbo do ex-ministro que nunca assumiu que define a política de Bolsonaro até aqui. O recorte de tempo que começa com o anúncio de Decotelli e sua posse interrompida foi recheado de conflitos, atritos, guerras de narrativas. Tudo baseado em informações falsas, distorcidas ou manipuladas. Muito barulho por nada. Ficou dando a impressão de que muita coisa aconteceu. Na verdade, nada aconteceu. E assim caminha seu governo. E assim, na verdade, seu governo não caminha.

Na pandemia, se deixarmos de lado os atritos, as confusões e as guerras de narrativas, o que, de fato, foi feito? A imagem que vai permanecer é o Placar da Vida, criado pela Secom para celebrar o número de curados e ignorar os caminhões de mortos.

É justamente no limbo do conflito inócuo, sem vencedores, que se sustenta a base de apoio. Sem projetos ou ideias, o governo recruta e retém apoiadores pela única virtude que restou: a fidelidade. Um governo enérgico que, na verdade, está imóvel.

Ou então, numa hipótese talvez mais verossímil, talvez estejamos vivendo a realidade da série “Dark”. Atibaia, na verdade, é um grande portal onde as pessoas viajam no tempo. Presente, passado e futuro são uma coisa só. O que está imóvel está também em movimento.

Zeus o cachorro, na verdade, é Laika. Célia, que fala ao telefone com Bolsonaro, é Martha Nielsen. A pandemia, na verdade, é a peste bubônica. Wassef não sabia que Queiroz era um viajante no tempo e espaço. Regina Duarte vai para a Mesopotâmia. A cloroquina, na verdade, é o emplasto Brás Cubas.

CENA 1 – Machado, foice e martelo

Bentinho recebe mensagens de um hacker comprovando que Capitu mantinha um relacionamento secreto com Escobar. Furioso, vai tomar satisfações.

“Tá aqui a prova, Capitu! Roupa suja se lava a jato.”

“Traí, Bentinho! Traí! Tava engasgado aqui há décadas! A verdade nos libertará! Traí mesmo. E não me arrependo de nada!”

“Como você pode fazer isso comigo, Capitu?”

“O PT fez pior.”

“Capitu, você tá maluca? E o nosso filho? Quero DNA!”

“Maluco tá você, Bentinho! Se você realmente pensa no nosso filho, vai ficar na maciota! Essa sua atitude destemperada pode fazer o Haddad voltar ao poder.”

CENA 2 – Caiu do Enem

Juca descobre que não passou no Enem pelo terceiro ano seguido.

“Pai, não foi dessa vez.”

“Meu filho, não aguento mais pagar cursinho. Tá na hora de você assumir suas responsabilidades. Você vai ter que trabalhar.”

“Pai, foi sabotagem.”

“Sabotagem? Como assim?”

“Eu tentei estudar. Mas a campanha difamatória comandada por famílias oligárquicas e por grupos de esquerda me oprimiu. Pressionado, admito, eu sucumbi à balbúrdia. Fumei maconha, ouvi Caetano e, pasme, papai, eu fiz sexo. Pai, seu apoio é fundamental! Ou você me estende a mão ou o Haddad volta.”

“Vou renovar o cursinho, filho.”

CENA 3 – Terrorismo

Martin, de dois anos, espalha tinta pela parede de casa. O pai pega Martin em flagrante com um pincel na mão desenhando na porta da cozinha.

“Não! Não, Martin. Não pode fazer isso!”

“Não fui eu, papai. Quem fez isso foi o Leonardo DiCaprio.”

CENA 4 – Lei Seca

Motorista completamente bêbado é parado numa blitz.

“O senhor pode, por gentileza, descer do veículo?”

“O conluio dos que são contra a maneira diferente de governar e usam mascaradamente um discurso bonito começa a eclodir. Tudo para volta dos que possibilitem seus interesses…Vão somando e notem que alguns chegam a ser surpreendentes! O sistema irá até onde muitos não imaginam!”

“Senhor, preciso que sopre o bafômetro.”

“E o PT? Já soprou? O Lula bebe que nem um camelo e a extrema imprensa não dá um pio! ”

“Senhor, o bafômetro.”

“Se eu soprar o Haddad volta. É isso que você quer?”