Excêntrico até na maneira de promover sua campanha, Moro vazou um novo áudio bomba de uma ligação interceptada. “Bessias, pode trazer a ficha de filiação ao Podemos”, diz a presidenta Renata Abreu. E Moro responde: “Se não for causar melindre à minha conje, queria dizer: Olar, querida”.

Exemplos de propostas originais não lhe faltam. Além de transferir a capital da República para Curitiba, o candidato da terceira vara revelou outras promessas de campanha: “Prometo prender todos os meus concorrentes”. Ao ser informado de que não é mais juiz, Moro retrucou: “Também nunca fui político”.

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Exímio estadista, daqueles que calam fundo na alma do homem mais simples da Faria Lima, Moro não precisa de muito para fazer tanto pelo povo. Com a mão no queixo, o semblante rústico de um autêntico herói nacional e o olhar perdido no Ipiranga, Sergio Moro revelou um sonho: “Na minha cerimônia de posse, não quero saber de Rolls-Royce. Vou colocar a faixa presidencial no peito e deslizar pelo
lago Paranoá num pedalinho”.

Exatamente como fez em toda sua carreira, ele quer se cercar de gente competente em que possa confiar. Para ajudar na sua campanha, Moro recrutou três ex-mosqueteiros no Ministério Público Federal. Especula-se que um quarto mosqueteiro também vai ajudar nos bastidores. “Eu prefiro não citar nomes ainda, vamos trabalhar com o pseudônimo de D’Artagnan Delatol para o cargo de vice-presidente”, preferiu.

Exemplos de humildade não faltam ao candidato da terceira vara. Com incentivo do Podemos, matriculou-se no curso de oratória e fonoaudiologia de Simon Wajntraub.

Ex-juiz, ex-ministro, ex-candidato-ao-STF, exegeta, futuro ex-colunista, ex-super-homem-hétero, o ex-Moro revelou os seus planos para o caso da candidatura fracassar. “Vou incluir mais uma honraria ao meu currículo. Participarei de um reality show comigo mesmo: ‘De Férias com meus Ex’”.

Em seguida, discordou de si mesmo e desistiu da ideia.

Ao saber das movimentações de Sergio Moro, Lula ergueu os dedos indicadores e fez o movimento de um quadrado. “Cadê o VAR?”, perguntou.

A mecânica quântica está pra física assim como o Brasil está para o resto do mundo. Aqui, tudo funciona diferente. O passado muda o tempo todo. O presente é sempre o futuro.

Não se sabe mais se amanhã Lula será condenado, absolvido, beatificado ou cancelado. Não se sabe mais se há cinco anos Lula foi cancelado, condenado, beatificado ou absolvido.

Não se sabe se Sergio Moro condenou Lula ou se Lula condenou Sergio Moro.

Gilmar Mendes é uma pessoa maravilhosa. Mistura do bem com progresso. Com pitadas de simpatia. Qual é o seu defeito? Nenhum.

Bug no sistema: A condenação de Lula tirou o ex-presidente das últimas eleições. As últimas eleições foram vencidas por Bolsonaro. Uma decisão recente anulou a condenação do Lula. Hoje o Brasil é governado por um presidente eleito num contexto que não deveria ter acontecido. E quem diz ter provas de que as eleições foram fraudadas é Bolsonaro. E Bolsonaro não mostra as provas.

O passado muda o tempo todo. O presente é sempre o futuro.

Não se sabe se amanhã Flávio será condenado, se o leite será condensado. Não se sabe se Flávio comprou um tríplex, uma mansão, um sítio.

De exemplo em exemplo, a lógica contraintuitiva ficou entranhada no brasileiro comum.

Amanhã o céu pode amanhecer em formato de bunda, com fraldas geriátricas que fazem chover floquinhos de gel. Tubarões podem tocar cavaquinho. Um presidente da República pode exaltar seguidores humilhando-os. Sovacos podem começar a voar. Pode-se descobrir que Lula é o Curupira, Aécio é o Boto, e a Damares é a Cuca.

A única pessoa que traduz à perfeição o espírito contraintuitivo do Brasil talvez seja Carlos Bolsonaro. Eis um tuíte real publicado dia 7 de março de 2021: “Qualquer um de bom senso sabe quando os ‘meios de comunicação’ vão desacelerar com todas as narrativas que estraçalham o povo e miram os próximos de certa pessoa há mais de um ano… tem método prudente, sofisticado, biografado, além de muito ‘$ocialismo e liberdade’”.

Talvez o Curupira tenha os pés virados pra frente o corpo pra trás.

Talvez a polarização brasileira não se dê entre polos opostos. E possa ocupar dois lugares no espaço ao mesmo tempo.

Talvez Atibaia seja apenas uma fotografia na parede. E como dói.

Num ato de vingança contra a criação da figura de juiz de garantias, o ministro Sergio Moro revelou sua única contrapartida para participar do programa. “Exijo a criação do jornalista de garantias. É uma medida que prevê dois jornalistas, um para formular a pergunta e outro para perguntar”, explicou.

Vera Magalhães, que estreia na apresentação da atração, disse que o jornalista de garantias vai ampliar significativamente os custos e a demora nas perguntas. Sem consultar ninguém, resolveu refutar ambos os pedidos. Não atenderá o clamor da internet pelo The Intercept Brasil, tampouco adotará o jornalista de garantias.

Vera ainda não se pronunciou sobre os apelos por um fonoaudiólogo entre os entrevistadores do programa.

Em seguida, Moro isentou a Aeronáutica de qualquer responsabilidade. “Foi o hacker que colocou, ilegalmente, as substâncias entorpecentes dentro da aeronave”, elucidou. “Temos que concentrar as investigações na ilegalidade cometida pelo hacker, que invadiu uma aeronave sem permissão”, completou.

O ministro apressou-se em esclarecer que a aeronave não era o modelo T-27, popularmente conhecida como Tucano da FAB.

Michel Temer foi despertado de um sono intranquilo em sua cripta quando o sino da igreja tocava meio dia.  “Hackeá-lo-ia para quê?”, respondeu, enigmático. Após morder a cabeça de um morcego, Temer concluiu: “Verba volant, scripta manent”.

Historiadores, no entanto, garantem que o twitter de Moro não foi hackeado. “Aquela mensagem em latim é uma maldição que foi lançada contra os Maia”, garantiu o professor Balbúrdio Miçanga da UFRJ. Em tradução livre, significa “Os tontos do MBL se erguerão diante do pato amarelo e enfrentarão a ira do marreco de Maringá”.

No mesmo instante, Ratinho reagiu: “Moro não tem certeza se é o pai dessa criança”, disse o apresentador. Imediatamente, a banda tocou uma vinheta, as luzes piscaram e um anão besuntado montado num unicórnio verde e amarelo trouxe o resultado de um exame de DNA.

Antes de abrir o envelope, Ratinho fez um merchandising da Reforma da Previdência.

Em seguida, continuou o suspense: “Eu conversava com um boneco em forma de rato e você com o Deltan Dallagnol. Cada um tem o Xaropinho que merece”, disse o apresentador.

No final do programa, Ratinho abriu o envelope e comprovou a paternidade das conversas. Moro levantou a hipótese do exame de DNA ter sido hackeado.

Em sua defesa, Moro alegou: “Nunca antes na história desse país a gente acompanhou uma campanha difamatória tão grande para manchar a reputação de um juiz pelos órgãos de imprensa”. E completou: “O celular não era meu, era de um amigo”.

Carlos Bolsonaro prepara um ensaio semelhante para comprovar a autenticidade de seus tuítes. Com a diferença de que as fotos serão sensuais.

Durante a tarde, o hacker alterou o código de programação e Sergio Moro passou a soar como Fausto Silva. “Tenho grande apreço por Deltan Dallagnol tanto no pessoal quanto no profissional. Essa fera é incrível, bicho”, disse.

Orientado por assessores, Moro preferiu permanecer o resto do dia em silêncio. Há rumores de que será dublado por Tom Cavalcanti até o ataque hacker ser desmantelado.

Em silêncio desde a revelação dos diálogos secretos de Sergio Moro, Jair Bolsonaro negou as suspeitas de que sua voz tenha sido hackeada. “Tem isso aqui não, tá ok?”, limitou-se a dizer.

Logo no primeiro item do pacote, o ministro se compromete a abrir mão não apenas do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), mas também da capa vermelha, do cinto de utilidades e da Manopla do Infinito. Ato contínuo, ele renuncia formalmente à função de agradar a José Padilha.

Moro ainda criou uma regra para emitir pareceres sobre a flexibilização de armas de fogo sem ser ouvido pelo governo: “Toda vez que tiver alguma recomendação nesse sentido, me comprometo a fazer um post no novo Orkut”, prometeu.

Para lidar com as denúncias que envolvem Flávio Bolsonaro, está prevista a instalação de uma pia de mármore em seu gabinete, a fim de que o ministro possa lavar as mãos a qualquer momento.

Depois de recuar da indicação de Ilona Szabó para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, levar passa-fora de Rodrigo Maia e criar o neologismo “conje”, Moro prometeu lançar um novo constrangimento todo mês. “A declaração de Jair Bolsonaro sobre a vaga no STF, que deu a entender que estabeleci essa condição para aceitar a pasta, faz parte do pacote. Ela já vale como constrangimento de maio.”

Ainda para este ano, está programado outro embaraço: “Parece que serei interpretado novamente por Marcelo Serrado na sequência de ‘Polícia Federal: A Lei É para Todos’”.

O pacote anti-Moro também garante que focinho de porco não é tomada de três pinos, perna de barata não é serrote e caixa 2 não é corrupção.

Por fim, mas não menos importante, o documento confirma que Moro não enxerga a cor laranja desde janeiro.