Pelo direito de discordar do MBL, eu vou à manifestação organizada pelo MBL
Os craques Gregorio Duvivier e Sérgio Rodrigues escreveram colunas comparando o atual momento com o 7 a 1. Até concordo que o 7 a 1 foi trágico, o gol de Oscar foi lindo, mas tem um ponto fundamental aqui: tudo aquilo aconteceu dentro das quatro linhas.
O que acontece hoje é diferente. É como se torcedores saíssem das arquibancadas, sequestrassem o juiz, depois invadissem a sala do VAR. Lá dentro, fariam todos os juízes reféns e, na base da truculência, exigiriam que o Brasil passasse para a final da Copa.
Imagine se a regra, a partir daí, fosse essa: uma minoria barulhenta de bandidos baderneiros querer determinar o resultado da partida ameaçando os juízes. Torcedores de Brasil e Alemanha, mesmo separados nas arquibancadas, teriam se chegado na indignação. Sem a disputa dentro de campo, a rivalidade entre Fluminense e Flamengo não faria mais sentido. Corinthians e Palmeiras. Grêmio e Internacional.

Sempre estive em arquibancadas opostas ao Movimento Brasil Livre. Discordo de suas ideias, métodos e ações. Mas é justamente para garantir o direito democrático de discordar que irei às manifestações do dia 12. É preciso dar uma resposta colossal à escalada autoritária da minoria barulhenta.
A democracia tem disso aí. A gente se fechou nas bolhas das redes sociais, mas o ruído, a discordância e o atrito fazem parte do jogo. Não é hora de ficar em casa esperando alguém organizar uma manifestação só dos seus. Aglutinar pessoas diferentes é a resposta democrática que se faz urgente.
Depois que a maioria dos brasileiros deixar claro que não quer uma nova ditadura, depois que esse pesadelo autoritário acabar, a gente volta a criticar o MBL. E o MBL volta a criticar a esquerda. E a esquerda volta a criticar a esquerda.
Espero que, daqui pra frente, o MBL jogue dentro das quatro linhas. Fake news, posições autoritárias, pedidos de remoção de ministros do STF, ataques a jornalistas fazem parte da trajetória do MBL e ajudaram a criar o monstro que combatemos.
Pelo direito de discordar do MBL, eu vou à manifestação organizada pelo MBL. Pela intuição, talvez ingênua, de que os grupos podem rever suas posições iniciais. Mas, principalmente, por entender que há uma real ameaça à democracia.
A cada dia que a maioria permanecer em silêncio, o ruído da minoria barulhenta aumentará. Até que precisaremos ficar mudos. De novo.